Não será possível salvar alguns e deixar perecer os demais: ou nos salvamos todos ou perecemos todos.
Leonardo Boff: "A consciência é essa, que desta vez não há uma arca de Noé, que salve alguns e deixe a perecer os demais: ou nos salvamos todos ou perecemos todos". Foto: Joana Moncau
Há anos, o teólogo brasileiro Leonardo Boff, referência da Teologia da Libertação, tem se dedicado à causa ecológica, não só nas Conferências das Nações Unidas sobre o Clima, mas também em debates nacionais, como as Conferências do Meio Ambiente, organizadas desde 2003. Observador privilegiado do evento oficial, em Cancun, ele pôde dividir com os participantes dos eventos organizados pela sociedade civil sua frustração pela indiferença dos representantes de países ricos com a urgência do tema. Logo após discursar para uma plateia formada por indígenas, camponeses e ativistas urbanos de todo o mundo, Boff falou à Revista do Brasil.
O senhor falou na necessidade de se prestar atenção à dimensão divina envolvida nessas questões. Está faltando Deus na discussão dos governos sobre as mudanças climáticas?
Acho que eles têm um deus, que é o deus dinheiro. Eles organizam tudo para manter sua riqueza, e nunca colocam a questão de qual é o futuro da vida, do planeta, de como vamos socorrer os milhões e milhões de vítimas do aquecimento global. Eles vivem a idolatria fantástica do deus dinheiro e, a seguir esse caminho, vamos ao encontro do pior. Por isso é importante que os movimentos sociais populares, que têm uma alternativa, têm uma visão humanística e espiritual de respeitar as pessoas, de se ajudarem, se transformem num grito de protesto, numa resistência a não aceitar as soluções que lhes deem.
Estamos condenados a um desastre?
Creio que o problema é global e, se ele não for resolvido, todos serão afetados, inclusive eles. Porque, quando a água chega ao nariz e passa da boca, ou a pessoa muda, ou morre. A crise está se agravando cada vez mais e vai afetar as grandes empresas. Chega um momento em que eles se dão conta que a solução deles não é solução, é uma falsa solução na tentativa de salvar privilégios. Espero que a sabedoria comum da humanidade triunfe. A consciência é essa, que desta vez não há uma arca de Noé, que salve alguns e deixe a perecer os demais: ou nos salvamos todos ou perecemos todos.
Entramos em uma etapa de irreversibilidade, isto é, a terra mudou pelo aquecimento global e isso não tem volta. Todos temos de nos adaptar à nova situação e minimizar os efeitos hostis. Isso não havia anos atrás. Há urgência! O tempo do relógio corre contra nós. Se não cuidarmos, daqui a pouco será um caminho sem retorno. E aí, sim, todos vão sofrer.
Dez anos atrás também começou a onda de governos de esquerda na América Latina, pela qual passou a solução da ameaça do livre comércio. Mas agora vemos que a solução está para além dos Estados nacionais. Como resolver esse novo problema?
A figura dos Estados nacionais não é mais adequada para problemas globais. Nós temos que chegar a uma governança global. No fundo, é dizer o óbvio: temos esse pequeno planeta, superpovoado, empobrecido e velho. Para podermos sobreviver juntos, temos que repartir. Dentro de pouco tempo, seremos todos socialistas. Não por opção ideológica, mas por não termos alternativa. Ou fazemos isso, ou então vamos assistir a dizimações de milhões de pessoas, desastres ecológicos de grande magnitude, e aí as pessoas vão aprender pelo sofrimento.
Por: Joana Moncau e Spensy Pimentel
O senhor falou na necessidade de se prestar atenção à dimensão divina envolvida nessas questões. Está faltando Deus na discussão dos governos sobre as mudanças climáticas?
Acho que eles têm um deus, que é o deus dinheiro. Eles organizam tudo para manter sua riqueza, e nunca colocam a questão de qual é o futuro da vida, do planeta, de como vamos socorrer os milhões e milhões de vítimas do aquecimento global. Eles vivem a idolatria fantástica do deus dinheiro e, a seguir esse caminho, vamos ao encontro do pior. Por isso é importante que os movimentos sociais populares, que têm uma alternativa, têm uma visão humanística e espiritual de respeitar as pessoas, de se ajudarem, se transformem num grito de protesto, numa resistência a não aceitar as soluções que lhes deem.
Estamos condenados a um desastre?
Creio que o problema é global e, se ele não for resolvido, todos serão afetados, inclusive eles. Porque, quando a água chega ao nariz e passa da boca, ou a pessoa muda, ou morre. A crise está se agravando cada vez mais e vai afetar as grandes empresas. Chega um momento em que eles se dão conta que a solução deles não é solução, é uma falsa solução na tentativa de salvar privilégios. Espero que a sabedoria comum da humanidade triunfe. A consciência é essa, que desta vez não há uma arca de Noé, que salve alguns e deixe a perecer os demais: ou nos salvamos todos ou perecemos todos.
Entramos em uma etapa de irreversibilidade, isto é, a terra mudou pelo aquecimento global e isso não tem volta. Todos temos de nos adaptar à nova situação e minimizar os efeitos hostis. Isso não havia anos atrás. Há urgência! O tempo do relógio corre contra nós. Se não cuidarmos, daqui a pouco será um caminho sem retorno. E aí, sim, todos vão sofrer.
Dez anos atrás também começou a onda de governos de esquerda na América Latina, pela qual passou a solução da ameaça do livre comércio. Mas agora vemos que a solução está para além dos Estados nacionais. Como resolver esse novo problema?
A figura dos Estados nacionais não é mais adequada para problemas globais. Nós temos que chegar a uma governança global. No fundo, é dizer o óbvio: temos esse pequeno planeta, superpovoado, empobrecido e velho. Para podermos sobreviver juntos, temos que repartir. Dentro de pouco tempo, seremos todos socialistas. Não por opção ideológica, mas por não termos alternativa. Ou fazemos isso, ou então vamos assistir a dizimações de milhões de pessoas, desastres ecológicos de grande magnitude, e aí as pessoas vão aprender pelo sofrimento.
Por: Joana Moncau e Spensy Pimentel
Fonte: Revista do Brasil
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